Sai de lá pensando na falta de conversas para o desenvolvimento do audiovisual num geral. Acho que para o crescimento da arte, mesmo. São muitas bolhas e pouco cruzamento. Tanto que no início da conversa eu já me desculpei por estar indo "apenas" conversar. Aí o Thiago nos alertou (e riu também): "quem dera se fosse sempre assim".
Aí lembrei que, na semana passada, após captarmos o último take para o primeiro corte, sentamos em uma mesa de café e conversamos (de novo!). Alguém levantou a questão sobre a positiva demora na construção de uma narrativa mais fragmentada. Fomos sendo carregados pela história, deixamos que o caminho se moldasse e aos poucos sentimos o que deveria ou não ser rodado. O grande trabalho foi filtrar e sentir. Deixamos de lado as ideias pré construídas e começamos de novo. Foram necessários muitos meses para captarmos imagens que revelassem o subtexto, que nos transmitissem à verdade encoberta por detrás das páginas do Boca de Rua, um jornal que chegou nas minhas mãos há dois anos, numa mesa de bar.
Me dei conta de que vai fechar um ano de pensamentos e conversas (mais uma vez ela aqui). Pra resumir, o tempo ajudou todos a moldar essa pedra. E é por aí mesmo: jogaram um pedra em cima da mesa e fomos lapidando, lapidando, lapidando. Cada um com seu melhor instrumento.
Não acho que tudo deva demorar anos para acontecer. Pelo contrário. "Fazer" tem ligação direta com o aprender e evoluir. Acho que a demora em si não revela nada. O grande passo de toda a equipe nesse primeiro momento foi entender que a repetição e a maturação surgiram durante o processo, com a câmera ligada e, principalmente, nos momentos de conversa, descontração, cervejas e silêncios.
Com isso, chegamos ao final da parte 01. As conversas agora mudam de lugar: ilha de edição do Alfredo Barros e do Ricardo Zauza.
As belas fotos são de Calvin Furtado e a foto meia boca (essa aqui em cima) de Marcelo Andrighetti.