terça-feira, 26 de março de 2013

parte 1



Ontem fomos conversar com o Thiago e com a Rita, da Gogó. Eles serão os responsáveis pelo desenho de som do nosso filme. Não levamos nada de material, apenas sentamos e, com um chimarrão rodando, divagamos sobre a trajetória do documentário: o que ele vai falar, como ele vai ser desenvolvido, qual a estética e como será trabalhar o som na web.

Sai de lá pensando na falta de conversas para o desenvolvimento do audiovisual num geral. Acho que  para o crescimento da arte, mesmo. São muitas bolhas e pouco cruzamento. Tanto que no início da conversa eu já me desculpei por estar indo "apenas" conversar. Aí o Thiago nos alertou (e riu também): "quem dera se fosse sempre assim".

Aí lembrei que, na semana passada, após captarmos o último take para o primeiro corte, sentamos em uma mesa de café e conversamos (de novo!). Alguém levantou a questão sobre a positiva demora na construção de uma narrativa mais fragmentada. Fomos sendo carregados pela história, deixamos que o caminho se moldasse e aos poucos sentimos o que deveria ou não ser rodado. O grande trabalho foi filtrar e sentir. Deixamos de lado as ideias pré construídas e começamos de novo. Foram necessários muitos meses para captarmos imagens que revelassem o subtexto, que nos transmitissem à verdade encoberta por detrás das páginas do Boca de Rua, um jornal que chegou nas minhas mãos há dois anos, numa mesa de bar.



Me dei conta de que vai fechar um ano de pensamentos e conversas (mais uma vez ela aqui). Pra resumir, o tempo ajudou todos a moldar essa pedra. E é por aí mesmo: jogaram um pedra em cima da mesa e fomos lapidando, lapidando, lapidando. Cada um com seu melhor instrumento.  

Não acho que tudo deva demorar anos para acontecer. Pelo contrário. "Fazer" tem ligação direta com o aprender e evoluir. Acho que a demora em si não revela nada. O grande passo de toda a equipe nesse primeiro momento foi entender que a repetição e a maturação surgiram durante o processo, com a câmera ligada e, principalmente, nos momentos de conversa, descontração, cervejas e silêncios.

Com isso, chegamos ao final da parte 01. As conversas agora mudam de lugar: ilha de edição do Alfredo Barros e do Ricardo Zauza.


As belas fotos são de Calvin Furtado e a foto meia boca (essa aqui em cima) de Marcelo Andrighetti.













quinta-feira, 21 de março de 2013

na casa de maria

Estávamos à procura do vazio, do silêncio, do invisível ao cotidiano do olhos rotineiros. Caminhamos por dez metros, talvez menos, e encontramos no mínimo uns 20 takes. Passaríamos a tarde em quatro ou cinco passos, apenas mudando de lente e girando a cabeça do tripé, e mesmo assim deixaríamos de filmar tudo o que há de desconhecido pelo dia a dia, pelos nossos pés rápidos que ficam no pensamento e esquecem de abrir os olhos para o presente.



Enquanto as cabeças captavam, olhos curiosos nos retiam (é engraçado filmar na rua!). Muitos paravam:

-Vai passar no fantástico?

E nós sempre interagindo.

Foi quando filmávamos uma bela casa verde, cortada por uns galhos secos de uma árvore entrando no outono. Uma senhora nos chamou através de uma porta.

- Vocês são da arquitetura?

Papo vai, papo vem, surge o convite e entramos na casa de Maria. Quadros e mais quadros preenchiam três salas. Ficamos fascinados pelo número grande de telas e esculturas que figuravam nos ambientes. Enquanto a artista procurava demoradamente umas reportagens para nos mostrar quem ela realmente era no cenário mundial das artes, dois membros da nossa equipe (que eu prefiro não dizer quem era) estavam em outro ambiente consertando um sofá antigo que havia ficado no caminho de uma perna humana. Fiquei entre o sofá e a Maria: não sabia se contava, se ajudava o conserto, se tentava segurar ela, se puxava um assunto sobre a chuva que estava por vir ou se chutava o balde e arrancava de vez todos os pés do sofá. Maria volta pra sala e nos entrega uma fotocópia de uma página sobre a vida dela.


Maria é Maria Di Gesu, artista plástica que iniciou seus trabalhos durante a Segunda Guerra Mundial. Autoditada, veio ao Brasil em 1947 e estudou com grandes gênios, tal como Iberê Camargo, Xico Stockinger, Danúbio Gonçalves, Vasco Prado e Benito Castañeda. Bota no Google que tem mais.


No final, sofá consertado e Maria sentada para uma linda foto.  Fizemos uma amiga. Aliás, cada vez mais temos descoberto pessoas incríveis nessa jornada em busca de histórias desconhecidas. O Boca tem feito a diferença na vida deles e  também na nossa vida.

Tem feito a diferença nas nossas vidas.



E o Calvin - que foi "confundido" de Haroldo pelo nosso Diretor de Foto - abriu os olhos dois segundos depois.


quarta-feira, 6 de março de 2013

dia de ilha


Alguns pré-cortes já foram dados no doc. Hoje é dia de colocar os pés no chão, imprimir o roteiro e sentar ao lado do Alfredo, nosso querido montador, e do Ricardo, montador assistente. Ver o que funciona e o que fica guardado para uma próxima. O processo é esse. Durante as gravações, precisamos de horas de conversa para chegar no ponto. Mas isso foi ótimo, porque a equipe não sabia qual era o ponto. Tudo foi se construindo no processo.

Entre depoimentos inusitados e histórias chocantes, MC Dom foi um dos integrantes que chamou bastante nossa atenção com suas músicas e rimas. Ele cantou diversas histórias que foram escritas pelo grupo Realidade de Rua, criado por moradores em situação de rua.


Com isso, roteiros  e montagem vão se afinando na ilha de edição. Aos poucos vai se construindo uma Ideia Controle, ou seja, o que queremos com isso tudo, o que nosso filme vai passar e qual sensação vai ser criada com este web-documentário.

E vamos nessa!